terça-feira, 14 de junho de 2011

A insatisfação

Cá estou, novamente, sentindo-me estranhamente vazia e, até certo ponto, infeliz. O motivo de minha infelicidade? Escapa-me como água que tento pegar com as mãos. Não sei. Tampouco procuro saber. É mais uma insatisfação. Melhor!, um cansaço. Isso. Estou cansada.

O que envolve alguém com quem me importo acaba por envolver-me também, de fato.

Li agora que a autora de uma Graphic Novel que acabei de ler – e de fato apreciei imensamente – disse que escreveu e publicou sua própria história porque esperava com isso ser capaz de curar as mazelas de sua família, uni-la.

É preciso coragem, imagino.

Enquanto leio o que ela lamenta, penso ao mesmo tempo que eu não teria coragem de colocar no papel, com nanquim e aquarela, os eventos da minha não-muito-longa-vida até então.

Estou insatisfeita. Insatisfeita com algo indefinível e ao mesmo tempo bastante compreensível – por mim. Não espero que compreenda. Sequer me darei ao trabalho de compartilhar. A minha insatisfação é com tudo; e com nada.

Como é que ela consegue se expor daquela maneira – e aliás não apenas ela, mas muitos outros autores – em uma obra que será lida por muita gente, muita gente que saberá o que aconteceu. Inclusive a própria família.

Sabe do que preciso?
De papel. Papel e nanquim.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A armadura

Quando eu digo que não entende, faz cara de inconformado e retruca dizendo que entende, sim. Eu acho que não, uma vez que nem eu mesma consigo entender direito.

Acontece que desde que me percebo por pessoa, possuo uma armadura. Uma armadura que serve para muitas coisas, mas principalmente para duas razões em especial. A primeira é a de aparência. Reluzente e brilhante, minha Armadura impede que quaisquer indivíduos (bem ou mal intencionados) se achem no direito (ou na possibilidade) de me ferir. Quando a vêem, param, refletem e concluem que, pensando bem, é melhor me deixar em paz. A segunda é de defesa pessoal, mesmo. Serve para que, aqueles que queiram, de fato, me ferir, não o consigam, porque não conseguirão penetrá-la de forma alguma (ou, mais precisamente, pensarão que não a ultrapassaram).

É muito sutil, contudo, a minha Armadura. À primeira vista, ela não existe. E não é para qualquer um que ela vai aparecer. Ah, não. Ela só aparece para o perigo iminente, muito embora, teoricamente, ninguém declaradamente mau tenha tentado me ferir. Teoricamente.

Minha Armadura é guiada pelo que se poderia chamar de Inteligência a princípio, mas que eu talvez devesse nomear de Desconfiança. A Desconfiança é uma coisa engraçada, veja bem, porque, para ela, tudo é inimigo. Ou melhor, tudo é inimigo em potencial.

A Desconfiança é também uma general impiedosa, pouco criteriosa, que toma as rédeas das situações quando elas se apresentem ligeira ou mesmo remotamente perigosas.

Juntas, a Armadura e a Desconfiança fizeram até hoje um excelente trabalho de me proteger. É muito interessante observar como elas não me deixam cair. Temos uma imagem a zelar, compreenda. A imagem é o que mais nos importa, presumo. É o que buscamos meticulosamente, diariamente e incessavelmente.

Eu, protegida pela Armadura e comandada pela Desconfiança, não posso deixar ninguém entrar. Onde fica a minha tão preciosa imagem se for divulgada para o mundo, ou mesmo para você? Não é permitida a entrada de terceiros aqui. Só tem espaço para mim e minha Armadura.

Então quando você tenta abrir um espaço por entre as juntas de metal, a Desconfiança fica extremamente preocupada. "O que é que você quer, afinal? Não está bom olhar pela armadura?" Mas você me responde que não. Sempre responde que não. Só que, assim como você, a Desconfiança é uma adversária difícil. É forte, teve pelo menos vinte anos de preparo para chegar à posição em que chegou. Para construir a Armadura que construiu.

Ou será que foi a Armadura quem construiu a Desconfiança?

Já me perdi na sequência dos acontecimentos. Mas eu sei que se você, por algum descuido nosso, chegar a ultrapassar a Armadura, terá a visão privilegiada e humilhante do meu corpo frágil e poderá, sempre que quiser, me machucar. O problema é que, quando você de fato quiser me machucar, não estará fazendo apenas isso; estará me despedaçando por completo.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A incerteza

Meu humor varia como o dia, como a noite, como o clima.
Não sou bipolar, mas quem foi que perguntou?
Quem escondeu e deixou escondido, impossível de ser encontrado?

A verdade é que é muito difícil estar e ser.
Seria mais fácil se já fôssemos. Entende?

Nem eu.

Considerando-se meu próprio desconhecimento acerca de mim mesma acima de todas as coisas, permaneço indagando, quando indagar é, na verdade, tudo o que posso fazer.

Eu vou, eu volto, não chego a lugar algum e às vezes tenho a impressão de ter avançado alguns passos, quando nem me movi.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

O detalhe

Eu morri e aparentemente esqueceram-se de me enterrar.
Deve ser por isso que sinto esse cheiro de putrefação e essa dificuldade de me movimentar.

domingo, 27 de junho de 2010

A música

Lembro-me de quando a única música que eu sabia tocar no violão era "Lágrimas e Chuvas", do Kid Abelha. Sempre que tinha uma rodinha de violão e todo mundo estava tocando, eu apenas aguardava, com vergonha da minha única cifra decorada. Mas logo que o repertório do pessoal acabava, era eu quem entrava: "Sei uma música do Kid Abelha!". E todo mundo sabia cantar.


Depois fiquei conhecida por ser a menina que tocava "Lágrimas e Chuva".

Interessante, não?

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A megalomaniaquice

Ao som de Amy Macdonald, The Youth of Today, eu reflito. Relito sozinha, sobre a minha própria reação, minha raiva de hoje. Conversei, sim. Obtive opiniões. Há quem diga isso, há quem diga aquilo. No final o que basta é que, influenciada pelo sono acumulado e o cansaço que me pesa, deixe-me levar. Toda a minha recente decisão de manter-me de fora por água abaixo. Sinto, não posso evitar o que sinto. E frustro-me, também. Frustro-me com as percepções. Frustro-me por não ser capaz de mudar aquilo que me incomoda. Só posso me mudar, impedir-me de me incomodar. E como não me incomodar quando percebo? Percebo o mundo e hoje ele não me agrada. Hoje ele me estressa, cutuca. Critico dentro de mim mesma e justamente por não ter quem me escute - dentre os que de fato precisam escutar -, minhas próprias palavras, que eu queria gritar para todo mundo ouvir, extravasar e espalhar, ficam sufocadas em mim. Porque ninguém ouvirá o que eu não digo. E mesmo que eu diga, eu sei, não serei ouvida. Como evito isso? Existe forma de evitar? Nada. Não existe. Posso agir somente sobre mim. Uma pena.

Talvez eu seja megalomaníaca.

A satisfação

Tomo aqui a posição de quem observa, percebe. Abdico-me da posição de quem atua.
Por enquanto.
 
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